O Presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) vem se queixando a aliados próximos de que a mobilização de movimentos sociais tem sido morna durante o seu governo, o que dificulta a discussão de pautas e a implementação de medidas que não são bem recebidas por setores políticos e da economia não alinhados ao petismo ou à esquerda.
O presidente já fez os comentários a lideranças dos próprios movimentos sociais. Com a demanda popular dormente, a avaliação é a de que o governo fica fragilizado diante de pressões da direita e do centrão.
“Quando um grupo democrático e popular vence as eleições, muitas forças progressistas acham que acabou, que vencemos e que tudo vai ser implementado. Essa ilusão precisa ser trabalhada”, diz Paulo Okamotto, presidente da Fundação Perseu Abramo e um dos principais conselheiros de Lula.
“Os projetos precisam de aprovação no Congresso, no Judiciário, na sociedade. Portanto é importante que a gente tenha um processo de discussão na sociedade, para fazer avançar um projeto democrático e popular”, afirma.
Segundo o diagnóstico feito pelo presidente e relatado à coluna, parte da esquerda teria perdido contato com os lugares onde moram as pessoas das classes mais desfavorecidas, nos bairros periféricos e favelas, e isso estaria na origem das dificuldades de mobilização atuais.
As dificuldades em identificar as demandas e preocupações dos grupos dos quais historicamente são mais próximos estariam, então, tirando a força de mobilização da esquerda.
Nesse contexto, o PT decidiu retomar os comitês populares de luta, criados no início de 2022 para adensar a interlocução com as bases populares e enfrentar o crescimento do bolsonarismo.
De sábado (25) a segunda-feira (27), os comitês vão realizar ações como panfletagem em locais públicos em pelo menos 14 estados e interações nas redes sociais para debater os impactos da taxa de juros e mobilizar a sociedade, com Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, como principal alvo.
“Os avanços nas pautas de que a gente precisa só serão possíveis com muita unidade de ação, principalmente nas bases. E ela [a unidade] será ampliada através do trabalho dos Comitês Populares em todo o Brasil, realizando grandes mobilizações e formações políticas junto aos movimentos sociais e ao conjunto dos partidos de esquerda”, disse Mariana Janeiro, secretária nacional de Mobilização do PT.
Publicado em 26 de agosto de 2023 na coluna Painel da Folha de S. Paulo, editada por Fábio Zanini